quarta-feira, 28 de junho de 2017

A lagarta

Meu amor, que difícil essa coisa do mundo colocar duas pessoas pra se relacionarem, que difícil tantas reclamações, de ambos os lados, na tentativa de fazer que o outro se encaixe com mais jeito no nosso mundo.. nos nossos quereres.
Sempre complexo demais essa coisa de me juntar a outra pessoa, por isso, quase sempre, acabo correndo quando ainda há tempo. Mas por algum motivo, mesmo conseguindo enxergar cada detalhe que nos separa, muito maiores enxergo os detalhes que nos unem e me fazem ficar, por isso eu fico, por cada sorriso que risada que soltamos juntos, porque você pode não notar, mas você ri muito mais comigo que imagina. Fico por cada vez que você quer que eu fique mais, e acabo não ficando, porque quero tanto permanecer, que nesse dia eu acaberei ficando até a próxima manhã e não acho que é isso tudo que você quer ainda. Por todo cuidado que me permitiu ter com você naquela semana cheia de dores e pontos. Fico também toda vez que lembro como você canta doce pela manhã, fico porque fico, e cada vez que tento ir fico ainda mais. Pelos pedidos antes de dormir, levantando o braço e a camisa, eu não gostava de fazer carinho, só sabia receber.
Eu quero muito ficar e cada vez que te falta aquela delicadeza, eu tenho vontade de socar sua cabeça na parede, mas depois passo a socar a minha, por me ver tão idiota esperando, enquanto olho pro vinho que ainda está sobre a mesa... Bobagem essa de esperar cuidados de que não sabe direito o que fazer com essa palavra, ela vai muito além de ser educado. Insistir nisso me parece quase sempre uma tolice, até que me lembro de algum outro detalhe, como o dia em que veio até aqui com um abacaxi na mão e olhos de quem queria repouso em mim. É assim, sempre que penso em ir eu puxo na memoria algo pra ficar, porque no fundo, eu gosto disso desse jeito torto que é, sem sermos direito qualquer coisa, mas vendo sempre nos nossos olhos a vontade de estar!
Nós nos observamos para conhecer o outro e aprender melhor como fazer para se encaixar nos mundos alheios.. tem horas que da muito certo, mas tem horas que interpretamos errado.. acho que é normal não é?
Você parece uma lagarta listrada.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Ainda fico

Lembra quando te falei que estava na minha fase de despedida? Eu estou, nunca fui boa em ameaças, confesso que quando você me apertou na parede e falou por mil vezes que não iria me fazer mal me deu uma vontade danada de acreditar em você, mas não consigo. Naquele momento, senti um aperto maior do que o abraço que você me dava, um aperto la dentro, que deu vontade de chorar, sem eu entender direito porque, acho que a certeza que tenho que quero ficar, é tão grande, que me dói saber que você dificilmente vai me fazer acreditar que quer que eu fique realmente. Em nenhum momento daquela conversa, que durou horas, você disse a frase: eu quero que você fique! Você supos isso algumas vezes, me perguntou como fazer pra eu acreditar nisso, mas não conseguiu afirmar que realmente queria que eu ficasse, nenhuma vez. Então eu vou ficando, agindo como de costume, te chamando pras coisas, rindo das suas piadas, acreditando que sua cortina ainda vai tapar a claridade, fingindo achar normal que você apenas me convide pra ir na sua casa. Vou ficando como sempre, porque assim continuo te dando todas as possibilidades pra você seguir me decepcionando, porque sei que decepção demais me brocha, e assim, na semana que vem ou no próximo mês, eu irei embora sem te querer mais, será mais fácil pra mim, e não irei embora com o peso de não ter tentado até onde me foi permitido tentar.
Sei pouco sobre você, não sei das suas fragilidades, nem dos seus costumes fora de casa, mas sei que naquele domingo você estava revendo passados e não amigos. Sei que você não se importou nem por um minuto por eu estar naquele show ou pelo o que eu poderia ver nele, de tudo, sem duvidas, esse fato é o que mais martela a minha cabeça que ainda insiste em estar aqui. Sei que você gosta de brócolis e seu cachorro também, sei que terça tem forró e você gosta de ir, apesar de não saber dançar direito. Mas não sei de mais nada, e talvez seja melhor não saber, eu soube de coisas demais sem querer, hoje mesmo soube de mais uma enquanto estava quieta em casa olhando pro teto, mais uma decepcionada, mais uma brochada, mais uma vontade de ir embora, e o nosso tempo vai encurtando mais rápido do que eu gostaria e mais devagar do que eu deveria ter permitido. Mas agora eu estou aqui, não tão inteira como antes, mas estou, porque estar aqui, ainda me faz bem e não se preocupe em me fazer mal, eu não permitiria tanto, esse poder é mais meu do que seu.


quarta-feira, 8 de março de 2017

Quero!

Eu quero... Quero, por mais um monte de vezes, continuar a ouvir violão deitada no sofá enquanto seu cachorro pula em mim e eu olho pra janela imaginando tudo aquilo que quero quando estou ali. Quero permanecer com a lembrança do seu olhar tímido quando teve coragem de tocar uma musica na minha frente pela primeira vez, de todos os momentos, esse em especial, me pegou de jeito. Quero escutar por varias vezes você avisar que está me "bulinando" como se eu não estivesse sentindo, sempre prendo uma risada gostosa quando você fala isso, chega a dar cosquinha por dentro da barriga. Quero continuar a descobrir novos cantos na sua casa, como o dia que olhamos o sol ir embora e fizemos um plano pra nós e a varanda. Quero te ver, várias vezes, fechando a cortina de manhã como se ela tapasse alguma claridade de verdade. Quero continuar compartilhando a obsessão que criamos pela MINHA camisa de abacaxi.. e pode admitir, ela fica bem melhor em mim que em você. Quero escutar milhares de vezes você imitando seu pai e contando os casos incríveis da sua avó. Quero te ver muitas vezes fazendo almoço pra gente as 17h e que ele seja sempre tão bom quanto aquele. Quero lembrar sempre da primeira vez que nos vimos e como foi gostosa aquela coisa de olhares, me da um frio na barriga aqui só de lembrar. Quero que você goste de mim são do mesmo jeito que gosta bêbado e que continue desenrolando teorias mesmo eu estando de cara. Quero pedir desculpas por ser uma mulher toxica e por querer tantas coisas assim.
E tenho que admitir que quero ouvir mais vezes o vizinho de cima me chamando de "sua muié" por mais escroto que isso soe aos meus ouvidos e por mais que eu saiba que não somos tão um do outro assim.
Quero que você não se assuste com esse texto, porque te expliquei antes que texto é sempre muito e você fez cara de assutado.




sábado, 11 de julho de 2015

Mas deixa eu fingir e rir.

Eu não soube a hora de parar e agora eu só quero ficar, é ridícula a maneira como você fez desaparecer toda aquelas vontades e coisas bonitas e transformou tudo aquilo em algo tão morno e o morno, meu amigo, é uma bela merda! Eu suplico por emoções, gosto de coração na boca, mas mesmo assim, mesmo com essa coisa meio sem temperatura que você criou pra nós, mesmo sem um motivo desse lado daí, mesmo que você não queira, que não busque por isso, que faça o possível pra não alimentar, mesmo que... Mesmo assim, eu sem querer, sinto o coração na boca naquelas manhãs com pouco folego, ou quando acordo e vejo um sol desenhado na tela do meu celular. Dou risada pras paredes com aqueles convites inesperados, que parece você sentindo saudade, mesmo eu sabendo que só parece... Mesmo eu sabendo que a maior parte dessa historia, a parte mais bonitinha, só exista em pensamentos, naqueles que criei pra me burlar e não me deixar ir embora quando você deixa escapar qualquer fala meio amarga ou quando outros nomes são ditos. Porque no fundo eu sei que isso tudo pode ser só neurose minha e se não for, eu sei que de um jeito ou de outro, eu gosto demais de não saber como vai ser amanha e gosto das minusculas expectativas que crio pra ver você conseguindo suprir cada uma delas, mesmo sem você saber que elas existem aqui, mesmo eu sabendo que elas são exatamente do tamanho que você poderia conseguir suprir, afinal, nunca fui boa em criar motivos pra me ferir. No fundo, a verdade é que eu me confundo com essas incertezas, as súbitas ausências, as vezes, me da frio na barriga, mas no fim eu adoro isso do jeitinho que é, nem muito, nem pouco, morno! Mas cheio de pedaços quentes em meio aqueles outros tão frios.






Bárbara Jorge

domingo, 24 de maio de 2015

Parece que...

Me desculpe por fazer do tempo algo tão incalculável para mim, é que nunca fui boa em me preocupar com horas, talvez por isso exista 3 reuniões entre o seu bom dia e o meu. Desculpe por tentar burlar todas as regras mundias sobre "dias seguidos", por ser impulsiva quase sempre, por segurar as coisas que quero falar e por falar demais as que não devo, essa segunda talvez eu tenha aprendido com você. Desculpe por querer roubar todas as suas roupas e por não saber, ainda, a te dizer não. Desculpe também por ceder a todos aqueles impulsos de uma quinta feira embriagada, a verdade é que eu gosto dessas coisas repentinas, mas no outro dia sempre acordo com a sanidade gritando na minha orelha e me obrigando a pedir desculpas por talvez ter sido invasiva, aliás, me desculpe por pedir tantas desculpas, que na verdade nem são desculpas mas sim qualquer desculpa pra escrever um texto, olha eu com essa palavra aí de novo. É que não é sempre que meus pés saem tantos metros do chão, ainda mais assim... Tão rápido, correndo, atropelando horas e esquecendo do tempo. Tempo? Nem percebi que já passou uma semana, nem notei que tem apenas uma semana, parece 2 dias mas também parece um mês, parece terremoto e calmaria, parece movimento parece inércia, parece... parece... Eu e você, de um jeito meio devagar e rápido demais, parece.



Bárbara Jorge

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sobre a insistência e o amor

Às vezes é preciso renunciar, mesmo que sua vontade seja ficar ali quietinha para sempre até amanhã ou depois. Ceder demais as vezes parece que deixa de ser amor e vira desespero. Tentar segurar pelas mãos uma coisa que já tinha cheiro de partida desde o dia da chegada é inútil. Cativar o aparecimento do amor no ser amado é impossível. O outro não aprenderá a amar apenas porque você o ama. Amor não se cria, não se aprende, não se constrói, não ha formas de aprender a gostar de alguém, isso é papo furado, conversa que mãe falava naquela época em que casamento era arranjado. Amor nasce sem que a gente veja, não é coisa premeditada. Como qualquer outro sentimento ele é sem sentido, como o medo, quando vemos um abismo próximo, a mão gela, o coração palpita, mesmo sabendo que só vamos cair lá de cima se nos jogarmos de lá, mas não adianta, o sentimento de medo vem, sem nenhum motivo muito obvio, mas ele vem. O amor é igual, em meio a uma conversa tranquila dois olhares se cruzam e vem uma timidez lá de dentro do estomago que as vezes é tão forte que até colore as bochechas, a mão transpira e a boca faz esforço pra não sorrir sem motivo, tudo involuntário, tudo do nada, e de repente aparece alguém protagonizando nossos pensamentos sem que a gente queira, e assim como não tem jeito de fazer esforço pra começar a amar alguém, o contrário também é impossível, qualquer esforço seria em vão. O amor simplesmente nasce e da mesma forma acaba, como dizia Paulo Mendes Campos: "em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba." Mas as vezes, antes do amor acabar e mesmo que você não queira é necessário renunciar, porque a insistência desmedida pra alguém gostar de você além de ser inútil, ela mata o amor antes mesmo dele existir...







Barbara Jorge

terça-feira, 1 de abril de 2014

Te deixo.

Te deixo aqui, bem aonde você sempre esteve melhor, onde você sempre me caiu perfeitamente bem. A verdade, é que você sempre se torna mais bonito quando vai surgindo do meu papel em branco, e pouco a pouco, entre tortas palavras.. você vai aparecendo bem mais colorido que a realidade, isso aqui te faz ser mais magico, porque em algum momento, não me lembro quando, te coloquei em um pedestal imaginário bem acima de mim, e daqui debaixo você sempre me pareceu maior, mais encantador, mas quando te tirei daí e te observei no mesmo andar que eu, percebi que aquela realidade sensacional não passava de uma tentativa minha de te fazer melhor, pra que eu pudesse te achar perfeito pra mim, pra que eu justificasse o meu súbito encantamento e falta de ar, por alguém que sabe pouco sobre delicadezas.
Me deslumbrei pelo encaixe perfeito e pelo excesso de sorrisos na madrugada, pelo café na cama e pelas palavras alcoolizadas sempre ditas em tom doce, só de lembrar quase me deixo ir de novo, ou melhor, te obrigo a vir outra vez.
Mas uma hora o cansaço chega, nunca me vi buscar algo tanto assim, e cansa. Quando olho a coisa toda com distanciamento, me vem uma timidez e uma vergonha tão grande, que por isso, daqui pra frente, te deixo apenas aqui, onde essa historia pode continuar sendo magica, inviolável, onde ela permanecerá sendo o que nunca foi... real.
E se houver vontade de me buscar por ai, não deixe de vir, eu não disse que não quero mais, apenas falei sobre aquela parte sua que não existe, aquela que me faz querer ficar, é ela que deixo aqui, pra evitar futuros arranhões. A parte real pode vir, não tenho vontade de recusa-la, ela é tão pequena, que se continuar assim sem crescer.. não corre o risco de me causar danos.







Bárbara Jorge