Às vezes é preciso renunciar, mesmo que sua vontade seja ficar ali
quietinha para sempre até amanhã ou depois. Ceder demais as vezes parece que
deixa de ser amor e vira desespero. Tentar segurar pelas mãos uma coisa que já
tinha cheiro de partida desde o dia da chegada é inútil. Cativar o aparecimento
do amor no ser amado é impossível. O outro não aprenderá a amar apenas porque
você o ama. Amor não se cria, não se aprende, não se constrói, não ha formas de
aprender a gostar de alguém, isso é papo furado, conversa que mãe falava
naquela época em que casamento era arranjado. Amor nasce sem que a gente veja,
não é coisa premeditada. Como qualquer outro sentimento ele é sem sentido, como
o medo, quando vemos um abismo próximo, a mão gela, o coração palpita, mesmo
sabendo que só vamos cair lá de cima se nos jogarmos de lá, mas não adianta, o
sentimento de medo vem, sem nenhum motivo muito obvio, mas ele vem. O amor é
igual, em meio a uma conversa tranquila dois olhares se cruzam e vem uma
timidez lá de dentro do estomago que as vezes é tão forte que até colore as
bochechas, a mão transpira e a boca faz esforço pra não sorrir sem motivo, tudo
involuntário, tudo do nada, e de repente aparece alguém protagonizando nossos
pensamentos sem que a gente queira, e assim como não tem jeito de fazer esforço
pra começar a amar alguém, o contrário também é impossível, qualquer esforço
seria em vão. O amor simplesmente nasce e da mesma forma acaba, como dizia
Paulo Mendes Campos: "em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba." Mas as vezes, antes do amor acabar e mesmo que você não queira é necessário renunciar, porque a insistência desmedida pra alguém gostar de você além de ser inútil, ela mata o amor antes mesmo dele existir...
Barbara Jorge