
Adorável; Nao conseguindo nomear a especialidade de seu desejo pelo ser amado, o sujeito amoroso acaba chegando a esta palavra meio boba: adoravel.
Por uma logica singular, o sujeito amoroso percebe o outro como um todo
e, ao mesmo tempo, esse todo parece-lhe comportar um resto, que ele nao
pode dizer. É todo o outro que produz nele uma visao estética: louva-o por
ser perfeito, vangloria-se por te-lo escolhido perfeito; imagina que o outro quer
ser amado, como ele próprio gostaria de ser, nao por tal ou qual de suas qualidades,
mas pelo todo, e esse todo, concede-o a ele sob a forma de uma palavra vazia, pois todo nao poderia inventoriar-se sem se diminuir: sob Adorável!
nenhuma qualidade vem abrigar-se, mas apenas o todo do afeto. Entretanto
ao mesmo tempo que adorável diz tudo, diz tambem o que falta ao todo; quer
designar aquele lugar do outro no qual vem agarrar-se especialmente meu desejo,
mas esse lugar nao é designavel; dele, jamais saberei nada; minha linguagem
tateará, gaguejará incessantemente para tentar dize-lo, mas nunca poderei
produzir nada além de uma palavra vazia, que é como o grau zero de todos os
lugares em que se forma o desejo muito especial que tenho por aquele
outro (e nao por um outro qualquer).
tirado do livro "fragmentos de um discurso amoroso" - Roland Barthes
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